Três quartos de vida 💛
- Esta sou eu a Fingir
- 28 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de mar. de 2022
O meu Pai é Setentão
Sempre foste o meu papá
Eras o meu herói quando eu era menina e não sabia que as pessoas têm falhas.
Durante alguns anos zanguei-me contigo, sem saberes.
Porque estava também zangada comigo.
Não é fácil crescer sem pai, sabes.
Os miúdos de hoje vêm já com esse chip integrado, mas não foi fácil crescer a ouvir na escola que o meu pai não gostava de mim, porque escolheu a sua vida.
Odiava os domingos, porque eram os dias da família e eu não tinha uma.
Sempre me entristeciam as festas, não é fácil dividir um coração de uma criança a meio, em duas casas.
A dada altura, já mulher, acreditei que me falhaste. Sempre achaste que a nossa vida deveria ser uma decisão nossa, mas às vezes não sabemos decidir, sabes, são os pais que nos orientam. E aí zanguei-me porque me faltaste como pai mas eras quase o meu melhor meu amigo. Nessa altura sabia-me bem tudo isso, as nossas saídas, os jantares cúmplices, o contarmos tudo um ao outro.
Nunca coube exactamente em lugar nenhum, eu.
Só me senti em casa quando me conheci tão bem que soube que nunca bateria tão fundo, nunca pioraria. Quando tivemos o bom e o mau, não nos contentamos com menos do que o melhor. E o melhor para mim serei sempre eu. Só.
E eu, meu pai, eu sou uma mulher.
Tenho um orgulho enorme em mim, para que saibas.
Sou um resultado do que a vida me trouxe, aprendi com o que a vida me faltou, com as falhas que eu própria tive. Há muitas coisas que não conheço, que nunca senti na alma. Mas lutei como o fazem as crias na natureza selvagem, e cresci e venci e aprendi, não sei sequer como, a ser grata.
Sou uma pessoa afável, não sinto rancores, não me abatem os traumas, não me é difícil o sorriso, nem uma palavra meiga ou uma mão pela cabeça de alguém. Porque não deixei que a vida me amargasse.
Porque escolhi, em resumo, ser Eu.
E sei que o resultado do que sou me espera no futuro e no fim.
E tenho-te a ti. Não és o meu herói, já aprendi que não os há na vida real.
Mas acredito que és o melhor pai que a vida te permitiu ser.
E és um dos homens mais inteligente que conheço, admiro a tua força, o não parares, o quereres sempre saber mais, ser activo, sempre.
Gabo com orgulho quando, volvidos os 60 anos, foste aprender Autochad. Será sempre isso que diferencia os que estão mortos por dentro e os que têm sede de vida: o querer saber mais.
És o meu pai. O meu Papá!
Se pudesse sentava-me no teu colo, abraçava-te mais vezes. Dizia-te o quanto te gosto.
Por isso não quero mais nada de ti, senão que te lembres às vezes de como te adoro, que me tragas no teu coração, no meio de tudo o que lá deves manter e que não me deixes tão cedo.
De resto, sê feliz!
Adoro-te, meu Papá!

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