!50!
- Esta sou eu a Fingir
- 10 de mar. de 2022
- 2 min de leitura
[…] vi nascer o dia que me viu nascer
De repente uma insónia estranha, aconchegada ainda pelo quente dos brindes no palato
A sala sossega em breu e na mesa repousam os copos dos últimos a ir.
Os embrulhos já foram desfeitos mas tenho-os intactos na íris, como às letras exaradas à mão nos cartões que guardarei numa caixa do futuro.
Sinto sob a impressão digital o toque da cartolina amarela e pintada a texturas e colos…
E nos meus olhos a carícia das lágrimas salga-me a pele de emoção contida.

Lá fora os primeiros raios de luz
De repente em mim o cheiro do mar e as noites na areia em torno de uma fogueira de amigos. O hálito fresco do tão jovens que fomos, todos os poros da pele sedentos pelo novo dia!
E descalça, abro a porta da sala e guio-me pela luz rosada que me saúda. Não me dói o gelado da pedra debaixo dos pés nem a relva pintalgada de orvalho

Paro
Fecho os olhos
Desperto os sentidos
Sinto em cada pedacinho de mim a aurora do dia!
O rio continua a correr por baixo da mesma ponte. Os mesmos telhados abrigam as mesmas vidas e o grito das gaivotas nem se dá conta de mim ali
E assim, tão simplesmente assim,
De repente, 50
Com o aviso dos anos idos
De repente, 50!
Com o mesmo olhar em espanto pelo que virá
Eis-me!
De repente, nos 50!
E quão bons momentos me trouxeram todos os que me rodeiam, todos os que se lembram de mim, os que me mimam, os que me amam!
Agradeço a cada um de vocês
Agradeço à vida, que Amo!
E em plena consciência, agradeço a mim, à miúda que fui, à mulher que me tornei, e à pessoa que todos fazem que eu seja!
Quando eu morrer tenho a certeza de ter deixado uma marca neste mundo!
Metade de mim
São as pessoas que Amo!
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