top of page

sɐoɔsɐ̗Ԁ sɐɥuıɯ s∀


Desde que me seguro pela mão sozinha,

assim é a minha Páscoa

Só o sal evitava que o mar congelasse sob o céu azul

Com a sua vontade, ainda que chovesse teria descido à areia

Mas não era o caso e as rochas envolviam-nos no abrigo das suas mãos pétridas

Descansava na toalha, o corpo ainda branco e sem marcas de biquíni

Fechava os olhos e sentia no céu da boca o salgado com que a espuma das ondas a beijara

Ou seria a lembrança dos corpos na língua

Começava a sentir a pele eriçada pela brisa fresca

Ou seria do toque da pele ainda molhada na toalha ao lado

Abria as persianas dos olhos e via-o dormitando, a boca entreaberta e sedenta do seu corpo

Ardia-lhe de desejo o imo de si

Ou seriam os raios de sol que lhe penetravam as memórias das horas da noite

Afastando a cortina da distância entre os dois, roçava-lhe a pele com as pontas dos dedos

O sol amarelo incendiando-os

As ondas que iam e vinham

O grito do mar ao lançando na areia a sua espuma branca.

Nestes inícios de Abril

Tudo lhe sabia a verão e a adolescência

A praia, ainda vazia de gente, cantava-lhe pelas bocas das gaivotas

Ao longe o som da linha atirada pelo pescador

Os grãos da areia sussurrando segredos entre si

No céu um rasto de algodão doce


Em casa chovia, sabia-o

Por isso partira para ali

Ainda que não chovesse

Partiria

Para longe da Páscoa


 
 
 

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page