Fernando pessoa por uma moeda
- Esta sou eu a Fingir
- 7 de abr. de 2021
- 1 min de leitura
Num trapo de papel, duas linhas apenas, que a fome não permite mais
Uma letra rebuscada, tinta da cor de dor, desenhada a luto pelos dias que viveu
O ainda branco dos dentes não engana, nem a forma de se abeirar
- Um bom dia
(Sem servilismos ou falsas lágrimas)
- Um bom dia, desculpe se incomodo
(Os ombros não vergam. A cabeça não baixa)
Nos olhos que realçam a pele árida e tisnada não há humilhação, nem humildade.
É um vendedor orgulhoso do produto: -Troco duas linhas de Fernando Pessoa por uma moeda. São umas coisas que me lembro de escrever e recortar assim
Que não tenho moedas - de verdade
(olha-me com um riso nos olhos)
Que venha amanhã que lhe compro umas poucas - de verdade
Gravo a imagem do papel amarelado na mente.
Papiro
Uma letra rebuscada, já o disse?
Um cuidado extremo nos trapos de papel cortados iguais.
Que palavras teria escolhido?
O que se lembraria ainda, senão sempre?
Que moedas lhe valeriam a memória?
E à fome, quantas a matariam?
Espero pelo amanhãs
Eu, por trapos de papel com letras de Pessoa
Ele, por pedaços de metal com números vis.

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