top of page

Chove

Atualizado: 12 de fev. de 2021

Cai certa a chuva, riscos e riscos de água, como na BD.

Tela cinzenta de fundos pardacentos, no quadro desolado da cidade deserta que vejo da minha janela.

No vidro desta janela ficam os vestígios da chuva, tão desiguais dela. Traços rectos e geométricos a transmutarem-se em gotas redondas, perfeitas como bolas de sabão.

A chuva é-me fria na pele.

Magoa-me os olhos, embaciados que estão pelas sombras do vácuo no sangue.

Fere-me os sentidos esta chuva cá dentro.

Dói-me onde estou triste, esta ferida aberta que o tempo não sara, alastra.

Dói-me atrás do peito, ali bem escondido no músculo que bate sem calor. Dói-me no fim do meu estômago, onde não há borboletas.

Ressentem-se os meus braços que não conhecem semelhantes, definham minhas mãos que não sentem pele, chora-me o corpo que não conhece colo.

Estou sozinha.

Dói-me hoje estar sozinha.


 
 
 

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page