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A Escritora Antena


Hoje foi noite de ouvir.

Embalados pelo o uivo do vento, na tela do computador e numa sessão de gerúndios sob a gravidade da Lua, estivemos ouvindo a escritora Lídia Jorge


Traz no rosto uns olhos de menina deslumbrada, nos lábios vermelhos o sorriso fácil. A voz é cristalina e fluida, como o discurso desprendido com que nos brinda sobre a urgência de ser testemunha do seus dias, a necessidade de “desolcultar [através da literatura] o que se está a passar”.

Com Lídia Jorge é fácil acreditar na quimera, na literatura como “uma espécie de utopia”. Para a escritora, a literatura É a história do sonho, a história do desejo humano. É o pegar nas histórias sem final feliz - também conhecidas por realidade (!!??) - e trazer-lhes a realização daquilo que se almeja.

E a sua voz comanda-me as mãos que passam para o papel estas frases manuscritas - “a forma mais próxima da elaboração do cérebro”, cada palavra atraindo uma outra palavra de forma a “não deixar que os dias fiquem em branco”.

Fala-nos de Orlando [Virgina Wolf] a obra da sua vida, da minha também, o livro que escolhi para a tese final da cadeira de inglês, na faculdade. Sobre este, a necessidade do escritor em ser tudo, homem e mulher, pecador e santo, justo e ladrão, falar todas as línguas para conhecer tudo, sem limites.

“Ser os olhos de tudo”, ou, nas palavras de Álvaro de Campos e na voz do nosso Patrono destas noites de sangue nas veias, Nuno Santos Cash: “Querer ser tudo em toda a parte”


E é esta a minha sede, o que me queima a ponta dos dedos.

Escrever, criar, é uma necessidade de conter em mim tudo o que me rodeia e conseguir derramá-lo em letras sobre uma folha em branco.

Ou, como tão magistralmente disse Lídia Jorge: é o “encontro das palavras com uma ideia que não nos pertence e que apenas manejamos”...


Foram, mais uma vez, duas horas e pouco que passaram voando.

Numa noite de temporal, dentro de cada um de nós uma alma inquieta, uma vontade quase imoderada de se fazer sentir, ora pelas palavras que vamos citando, pelos desenhos que se vão criando, ou pelas letras que haveremos todos de escrever!

Porque no final, a Literatura é Esperança, é Elevação”!



Obrigada, Nuno Cash, não sei se alguma vez teremos a real noção da enormidade de tudo o que nos proporcionas!


Mais uma citação da noite de hoje, tão imensamente visceral que o

quero para mim:


“𝗔 𝗽𝗿𝗼𝘅𝗶𝗺𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗱𝗮 𝗺𝗼𝗿𝘁𝗲 𝘁𝗿𝗮𝘇 𝘂𝗺𝗮 𝗱𝗲𝘀𝗼𝗿𝗱𝗲𝗺 𝗲𝗿ó𝘁𝗶𝗰𝗮 𝗱𝗼𝘀 𝘀𝗲𝗻𝘁𝗶𝗱𝗼𝘀, 𝘂𝗺𝗮 𝗮𝗹𝘂𝗰𝗶𝗻𝗮çã𝗼...”


Bem haja, Lídia Jorge!

in Oficinas semestrais de escrita on-line TKNT

 
 
 

1 Comment


Daniela Pinheiro
Daniela Pinheiro
Feb 21, 2021

Muito bonito tudo. Ouvir Lídia Jorge, ler agora este texto... obrigada!

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