Nesta casa move-nos a paixão 🖤
- Esta sou eu a Fingir
- 27 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
Talvez mais a mim, que sou “team go go go”, o Moço cá do espaço é mais “team está tudo bem assim”...
Mas quando me acometem as ganas de mudar, de sarapantar a casa e arredores, de pôr tudo do avesso para voltar a criar, o Moço não só não me põe travão (fosse tal possível...) como se junta ao processo. Por isto mesmo, quando me disse: “quero tirar a trepadeira“, não pensei duas vezes e imediatamente concordei em lançar mãos à obra [talvez ainda tenha pedido uns orçamentos para não dar cabo do costado, mas à falta de resposta, então sim, mãos à obra]
Neste quadrado tão pequeno como trabalhoso começámos por um jardim de godo, opção decorativa do construtor e muito bom para massagens aos pés ou tortura com pedras (quem nunca?)

Ao fim de dois anos e meio de não ver as pedras crescer, aqui a vossa amiga resolveu lançar a ideia da relva, sem imaginar no que nos iria meter.
Ideia aceite e abraçada pelo Moço.
Sozinho retirou quilos e quilos e quilos de godo, revirou a terra, tirou mais godo, colocou quilos e quilos e quilos de nova terra e por fim, a dois, fizemos a sementeira.
Fila após fila, quadrado após quadrado, tábua após tábua, rega após rega.
Corria o mês de Abril de 2015 e enquanto semeávamos vida no jardim, esperava um telefonema do hospital a dizer-me que a minha mãe, em coma, partira.
Quase dois meses depois, a relva escassa escarnecia do nosso esforço.
Voltámos à obra , removemos tudo, revolvemos o solo, colocámos nova terra e, desta vez, plantámos - de joelhos e costas vergados - mais uma tentativa de vida.
De dez em dez centímetros, fila após fila, quadrado após quadrado, rega após rega, pequenos rebentos de relva, com a prece a cada um de que vingasse.
Desta vez a natureza recompensou-nos com o milagre do crescimento!
E como cresce a relva, como brilha vivaz, como cheira nos dias de verão, como renova o verde após cada corte!!
E a par da relva, os malmequeres do meu contentamento, as margaridas, roxas, amarelas, cor de rosa, as begónias, as hidranjas, os lírios, as dálias e todas as outras flores cujo nome nem sabemos.
É uma explosão de vida a cada estação, uma enchente de cor, a expressão de aromas mil, um jardim pleno onde cada cantinho traz uma novidade a cada dia.
E hoje, dedicámos a nossa manhã à limpeza necessária, à preparação da terra para a nova estação, e à remoção - a valentes machadadas, dores de costas e mãos esfoladas - da nossa trepadeira, não sem sentir na alma cada golpe auferido naquela perfeita construção da natureza.
Ficou a sensação de um lugar ora arejado, ora despido.
Um pedaço de terra ora em pousio, ora volvido na esperança de mais plantio.
O ciclo entre a morte e a vida.
O velho e o novo. O passado e o futuro.
As pombas não saem do muro a tentar perceber o que se passa. Os pardalitos, mais atrevidos, já vieram ao chão fazer um festim na terra revolvida. O melro hoje não veio, animal desconfiado.
Pois que andamos nós no lugar que é deles...
Amanhã completamos a limpeza, hoje o corpo não deixou.
E vem Março, e com ele a renovação dos vasos, o replantar do solo, portas abertas a acolher a Primavera.
Estamos a pensar em maracujás. E morangos, quero eu. E mais espaço para a Physalis.
E daqui a um mês, como agora, estaremos sentados neste sofá, o sol a romper sala adentro, todos os músculos do corpo paridos, as mãos desgraçadas, as unhas partidas e um sentimento de orgulho maior que nós próprios.
Porque tudo vale a pena!
E agora vou ali pôr-me em coma induzido por uns dias, até ter outra brilhante ideia de algo a mudar aqui por casa...
Já vos contei que sei pintar casas?
Sem tirar nem pôr ❤️ Agora o coma induzido, trouxe-te uns pesadelos engraçados trouxe...